Os conceitos básicos do Controle Estatístico de Processo (CEP)

Uma leitora diz que tem lido textos sobre o CEP, mas que ela não entende o que é e para o que serve. De forma bem resumida, apenas para os leitores entenderem, o CEP uma ferramenta com base estatística, de auxílio ao controle da qualidade, nas etapas do processo, particularmente no caso de processo de produção repetitivo. Atualmente, mais do que uma ferramenta estatística, o CEP é entendido como uma filosofia de gerenciamento (princípios de gerenciamento) e um conjunto de técnicas e habilidades, originárias da estatística e da engenharia de produção, que visam garantir a estabilidade e a melhoria contínua de um processo de produção.

Em resumo, visa o controle e a melhoria do processo. Os princípios fundamentais para implantação e gerenciamento do CEP são: pensar e decidir baseado em dados e fatos; pensar separando a causa do efeito, buscar sempre conhecer a causa fundamental dos problemas; reconhecer a existência da variabilidade na produção e administrá-la; usar raciocínio de prioridade (Pareto); girar permanente e metodicamente o ciclo de controle (Ciclo PDCA: Plan, Do, Check, Action), visando a melhoria contínua do desempenho; definir o próximo processo/etapa/posto de trabalho como cliente da etapa anterior, pois é ele que define a qualidade esperada; identificar instantaneamente focos e locais de disfunção e corrigir os problemas a tempo; educar, treinar e organizar a mão de obra visando uma administração participativa e o auto controle.

Dentre as ferramentas de apoio ao CEP, podem ser citadas:

  • Amostragem (Inspeção, Planos de Amostragem);
  • Folha de Verificação;
  • Histograma/Gráficos;
  • Diagrama de Pareto;
  • Diagrama de Causa e Efeito/6M/Espinha de Peixe;
  • Estratificação;
  • Gráficos de Controle (Gráficos de Shewhart);
  • Diagrama de Correlação.

Atualmente, a inovação fundamental em relação ao CEP é que essas técnicas devem ser compreendidas e aplicadas por todas as pessoas da organização e não apenas pelos técnicos e engenheiros da área de qualidade. Um dos pilares da estatística é a amostragem. Populações ou lotes em geral são grandes demais para ser analisadas em detalhes item por item.

Em muitos casos a inspeção a 100% é uma regra em muitas empresas de manufatura, mas na realidade este procedimento não funciona adequadamente. Imagine o operador que tem a responsabilidade de verificar o nível de preenchimento de um lote de garrafas de refrigerante. O lote tem 50.000 unidades. Depois de inspecionar apenas 100 garrafas, é muito provável que o operador já não está mais pensando em níveis de preenchimento, mas sim no próximo churrasco, na próxima oportunidade de tomar uma cerveja ou na próxima namorada.

No final, inspeção a 100% tem custos elevados e resultados péssimos. A seleção de amostras de tamanho muito menor que a população enxuga os custos e acaba representando melhor as características da população. A amostragem igualmente é necessária quando a inspeção necessita da destruição do item amostrado. Nesse caso, poucos itens vão para o laboratório para sofrer a verificação dos técnicos.

A aplicação do CEP também impulsiona os custos para baixo, pois o número e a percentagem de peças defeituosas produzidas na fábrica vão diminuir com as melhorias na linha de produção. Portanto, com menos refugo e menos retrabalho o custo por peça produzida vai diminuir. Enfatiza-se que existe somente uma razão para utilizar CEP em uma fábrica: aumentar o resultado financeiro, se possível no curto prazo, mas também no longo prazo. No entanto, CEP não é nenhum milagre e consequentemente ele deve ser abordado na empresa como qualquer projeto de investimento nos quais os custos são contabilizados e os benefícios previstos e medidos.

Já a inspeção de peças individuais tem como objetivo a eliminação de peças de baixa qualidade que não alcançam as expectativas do consumidor e não devem ser colocadas no mercado. Com constante inspeção do produto ao longo da linha de produção, a empresa pode identificar produto que precisa de retrabalho ou até mesmo rejeição total.

Nesse caso, a companhia está gastando desnecessariamente para corrigir erros os quais, numa fábrica melhor organizada, não aconteceriam com tanta freqüência. Numa fábrica melhor, é feita a coisa certa na primeira vez. Uma fábrica realmente eficiente não exige inspeção a toda hora porque tem muita confiança que o produto já está saindo dentro das especificações.

Assim, acaba sendo comum na indústria que a fabricação de peças não conformes ocorre porque os processos são instáveis a ponto de proporcionar produto fora das especificações. Em outras palavras, a fábrica não está controlando processo para melhorar constantemente a qualidade do produto.

Para controlar e estabilizar os processos, podem ser utilizadas as ferramentas do CEP necessitando apenas pequenas amostras sempre muito menores que os lotes. Assim, as investigações do gerente estarão em direção das grandes causas atrás das irregularidades da linha de produção. Cada vez que uma nova causa é identificada e documentada para análise e, portanto, eliminação, o processo de produção é estabilizado e qualidade garantida e melhorada.

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2 Respostas

  1. Vale ressaltar que as amostras que serão selecionadas em um plano de coleta de dados devem, obrigatoriamente, representar o comportamento da população para que as conclusões do processo não sejam distorcidas e comprometam uma tomada de decisão. Amostras devem ter:
    1- representatividade para que o “pouco demais” não gere dados com outros tipos de distribuições não normais
    2- aleatoriedade para que todos os eventos tenham a chance de serem selecionados, podendo variar pelo método simples, estratificado ou sistematizado
    3- não misturar “laranjas com banana” ou seja selecionar amostras de 2 populações diferenciadas gerando bi-modalidade
    Atenciosamente
    Marcelo Rivas – Consultor Master Black Belt & Lean Especialista 101/201

  2. Mais detalhes sobre este tema poderemos tratar pessoalmente no Congresso Six Sigma Brasil dia 12 e 13 de Maio no Auditório Senac-SP, onde irei palestrar sobre ” A Fragilização dos Controles Após a Implementação de Melhorias dos Processos”

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