Eu queria ser civilizado como os animais
Eu queria não ver todo o verde da terra morrendo
E das águas dos rios os peixes desaparecendo
Eu queria gritar que esse tal de ouro negro
Não passa de um negro veneno
E sabemos que por tudo isso vivemos bem menos
(Roberto Carlos na música O Progresso)
Acidentes dos mais diversos tipos, quando não fatais, podem causar quadros irreversíveis como é o caso das lesões medulares. Para a cirurgiã Cíntia Kelly Bittar, do Hospital da Unicamp, a maioria dos pacientes medulares acaba entrando em depressão, pois não tem estrutura familiar, financeira e emocional para se reabilitar. Em sua tese de doutorado, defendida na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, Cíntia avaliou um grupo de 60 pacientes submetidos à técnica de estimulação elétrica neuromuscular (EENM) que busca melhorar as condições de vida de pacientes paraplégicos e tetraplégicos. O tratamento oferecido no Laboratório de Biomecânica de Reabilitação, coordenado pelo bioengenheiro Alberto Cliquet Júnior, orientador da tese de Cíntia, já fez dois pacientes atendidos pelo ambulatório de órteses e próteses do Hospital de Clinicas da Unicamp deambularem.
De acordo com os resultados da pesquisa de Cíntia, além de permitir a locomoção, a técnica de estimulação melhorou o sistema músculo-esquelético e sistema gastrointestinal de pacientes avaliados pela cirurgiã. Os pacientes avaliados durante o doutorado melhoraram a posição do pé, a qualidade óssea, o equilíbrio, o sistema respiratório e cardíaco, segundo a médica. Ela esclarece que a posição ortostática e a movimentação permitida pela EENM beneficiam principalmente o sistema músculo-esquelético. “Ocorre melhora da rigidez articular, das deformidades nos pés e nos tornozelos e da osteoporose, o que possibilita a estes pacientes manterem seus pés e tornozelos na posição plantígrada, auxiliando novas técnicas de reabilitação, evitando complicações frequentes como úlceras por sobrecarga, artropatia de Charcot (consequente a microtraumas repetitivos), acentuação de deformidades pelos desequilíbrios musculares e fraturas pela baixa densidade óssea destes pacientes.” Com os estímulos, o espasmo que geralmente o paciente tem nos pés diminuiu e a sensibilidade dos membros inferiores ao toque melhorou, segundo Cíntia.
De acordo com Cíntia, que restringiu a tese à análise de pés e tornozelos, o tratamento mostra-se melhor em relação à cirurgia, pois os pacientes medulares apresentam uma osteoporose intensa, o que obriga a retirada óssea em maior quantidade para corrigir os pés, sendo que a chance de não consolidar é grande. “Por isso os pacientes sem deformidades não necessitam de cirurgias ortopédicas em seus pés, pois se apresentam plantígrados pela eletroestimulação. Se forem desenvolvidas técnicas para voltar a andar, estes pacientes estão aptos, não necessitando de cirurgias para correção dos pés”.
Apesar de oferecer novas possibilidades ao paciente medular, infelizmente a técnica não se aplica a todos os casos. Para realizar o tratamento, o paciente não pode ter problema cardíaco, respiratório nem sequela de fraturas, pois quando há deformidades associadas em membros inferiores, o paciente não tem como aproveitar a reabilitação para ficar de pé. “Eles precisam ter boas condições clínica e músculo-esquelética. É necessária uma triagem prévia”, acrescenta Cíntia.
Algumas condições sociais também afastam alguns pacientes do tratamento, segundo Cíntia. “Não são todos que têm condições de vir semanalmente para seguir o tratamento corretamente. Muitos abandonam o tratamento porque não apresentam disponibilidade para alguém acompanhá-losA eletroestimulação, segundo a cirurgiã, consiste no estímulo do nervo, o que possibilita que pacientes que não tenham uma lesão completa dos nervos possam voltar a andar, como foi o caso dos dois pacientes do ambulatório. As atividades realizadas duas vezes por semana fazem com que a pessoa diminua as contraturas musculares dos pés. De forma mais didática, ela acrescenta que um estimulador principal faz conexões dos músculos quadrícepes e tibial anterior, estimulando os pacientes a iniciarem alguns movimentos de passos. Segundo a cirurgiã, os pacientes paraplégicos usam andador e os tetraplégicos, suporte de suspensão para poderem fazer a locomoção com esteira.Poucos são os ambulatórios de reabilitação no Brasil e, segundo Cíntia, entre esses, poucos utilizam a eletroestimulação como tratamento. O tratamento deve ser contínuo para que nos primeiros meses os pacientes apresentem só o estímulo e depois de seis meses comecem a ficar de pé, segundo a cirurgiã. O tratamento envolve uma equipe multidisciplinar composta de fisioterapeutas, psicólogos e urologistas, pois muitos pacientes, segundo Cíntia, usam sonda permanentemente.
As pessoas com deficiência não têm o seu direito respeitado no Brasil
Os deficientes físicos, para exercerem seus direitos e fortalecerem sua participação como cidadãos, necessitam ter o direito a acessibilidade em edificações de uso público
O que aconteceu com a deputada cadeirante Mara Gabrilli, que ficou mais de uma hora presa em um avião no Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP), até conseguir desembarcar, é apenas mais um exemplo de que as pessoas com deficiência não têm o seu direito respeitado no país. Gabrilli se recusou a ser carregada e teve de esperar, já que o elevador para passageiros em cadeira de rodas não estava disponível no local.
Para o presidente da Target Engenharia e Consultoria, Mauricio Ferraz de Paiva, todas as pessoas, entre as quais se incluem as que possuem algum tipo de deficiência, têm direito ao acesso à educação, à saúde, ao lazer e ao trabalho. Isso contribui para a inserção social, desenvolvimento de uma vida saudável e de uma sociedade inclusiva. As pessoas com deficiência física para exercerem esses direitos e fortalecerem sua participação como cidadãos, há necessidade de se atingir alguns objetivos, como o direito a acessibilidade em edificações de uso público. Assim, a conquista por espaços livres de barreiras arquitetônicas implica a possibilidade e a condição de alcance para que portadores de deficiência utilizem com segurança e autonomia as edificações, mobiliários, os equipamentos urbanos, os transportes e meios de comunicação.
Em resumo, todos os espaços, edificações, mobiliário e equipamentos urbanos que vierem a ser projetados, construídos, montados ou implantados, bem como as reformas e ampliações de edificações e equipamentos urbanos, devem atender ao disposto nesta norma para serem considerados acessíveis. Edificações e equipamentos urbanos que venham a ser reformados devem ser tornados acessíveis. Em reformas parciais, a parte reformada deve ser tornada acessível.
O presidente explica que, no caso da deputada, existe uma norma, a NBR 14273 – Acessibilidade a Pessoa Portadora de Deficiência no Transporte Aéreo Comercial que estabelece os padrões e os critérios que visam propiciar às pessoas portadoras de deficiência condições adequadas e seguras de acessibilidade autônoma ao espaço aeroportuário e às aeronaves das empresas de transporte aéreo público regular, regional e suplementar. “Também está especificado que a empresa aérea responsável pelo transporte deve prover recursos materiais e pessoal treinado para permitir o despacho, embarque e/ou desembarque da pessoa portadora de deficiência e respectiva bagagem. Quando o terminal dispuser de passarela telescópica, deverão existir cadeiras de rodas e pessoal treinado disponíveis para o transporte, sem demora no embarque/ desembarque, de pessoas portadoras de deficiência motora que não se utilizarem de sua própria cadeira, entre a empresa aérea e a porta da aeronave. Nos casos em que a passarela telescópica não atender a inclinação máxima de 12,5%, as empresas transportadoras devem prestar a assistência que se fizer necessária. Quando o embarque/desembarque não se der por meio de passarela telescópica, deve ser efetuado por sistema eletromecânico de elevação que permita que a pessoa portadora de deficiência possa ser transportada de/até a porta da aeronave, de modo confortável, seguro e sem demora”, explica ele.
No caso de aeronaves com mais de 100 assentos, devem dispor de no mínimo uma cadeira de rodas de bordo, dobrável, com dimensões compatíveis (quando armada) com os vãos livres do interior das aeronaves, em especial corredores e lavatórios. Já as com menos de 100 assentos, recomenda-se que também disponham de cadeira de rodas de bordo, desde que haja espaço disponível para acomodá- la desarmada. “O passageiro portador de deficiência deve ser conduzido até o assento que lhe é destinado utilizando, caso necessário, a cadeira de rodas de bordo. Neste caso, a transferência de/para o assento destinado deve ser efetuada por tripulante de cabina treinado. Para a locomoção entre o assento e o lavatório, o passageiro que o necessite, deve solicitar o auxílio do tripulante de cabina para utilizar a cadeira de bordo. O passageiro que utilize cadeira de rodas deve ser acomodado em assento disposto ao lado dos corredores, cujos braços sejam removíveis ou escamoteáveis. Recomenda-se que os assentos para esse fim sejam localizados na dianteira e traseira da aeronave, o mais próximo possível das saídas.”, acrescenta.
Ele diz ainda que a Target reconhece a necessidade de publicidade e facilitação do acesso, via internet, das normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) de interesse social, em especial aquelas relacionadas direta ou indiretamente às pessoas com deficiência citadas pela legislação nacional, tendo em vista a relevância e o caráter público de que estas se revestem. Abaixo seguem as normas.
Para abrir o arquivo clique no título da norma. Os arquivos estão em formato PDF.
NBR 9050 – Acessibilidade a Edificações Mobiliário, Espaços e Equipamentos Urbanos
NBR 14020 – Acessibilidade a Pessoa Portadora de Deficiência – Trem de Longo Percurso
NBR 14021 – Transporte – Acessibilidade no sistema de trem urbano ou metropolitano
NBR 14273 – Acessibilidade a Pessoa Portadora de Deficiência no Transporte Aéreo Comercial
NBR 14970-1 Acessibilidade em Veículos Automotores- Requisitos de Dirigibilidade
NBR 14970-2 – Acessibilidade em Veículos Automotores- Diretrizes para avaliação clínica de condutor
NBR 14970-3 Acessibilidade em Veículos Automotores- Diretrizes para avaliação da dirigibilidade do condutor com mobilidade reduzida em veículo automotor apropriado
NBR 15250 – Acessibilidade em caixa de auto-atendimento bancário
NBR 15290 – Acessibilidade em comunicação na televisão
NBR 15320:2005 – Acessibilidade à pessoa com deficiência no transporte rodoviário
NBR 15450:2006 – Acessibilidade de passageiro no sisma de transporte aquaviário
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