Na cidade de São Paulo, a quantidade de motoqueiros que perdem a vida diariamente é muito grande. E são muitos os fatores que podem explicar o rápido crescimento das mortes de motociclistas, mas todos os estudos recentes apontam que as causas principais são procedimentos de risco dos próprios condutores, como andar no chamado corredor das vias, e também o consumo de álcool.
Se o risco de morrer em uma colisão de automóvel já é significativo, a depender das circunstâncias do acidente, sobre uma motocicleta essas chances são 20 vezes maiores. Esse número sobe para 60 vezes se a pessoa não estiver usando o capacete, item obrigatório pela legislação.
“Acho que não existem acidentes de moto, existem acidentes de trânsito em que as motos estão envolvidas. E as motos se envolvem mais porque vemos mais vítimas. Quando dois carros batem, apenas amassa o para-choque, já na moto o para-choque do motociclista é ele mesmo”, resume Julia Greve, médica fisiatra, professora associada da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do Laboratório de Estudos do Movimento, do Hospital das Clínicas.
Cada vez mais, os serviços de resgate nas ruas, os atendimentos de emergência dos hospitais e mesmo as unidades de terapia intensiva vêm sendo dominados pelas vítimas de acidentes de motocicletas. Em 2011, de acordo com dados da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) e do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), ocorreram 72,4 mil internações de vítimas de acidentes de trânsito. Desse total, 35,7 mil foram vítimas de acidentes de moto, o que representa quase 50%.
Maiores vítimas de homicídio, homens jovens, negros e pobres também são os que mais morrem de acidentes de motocicleta, segundo pesquisa do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes e da Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro. Uma explicação é o fato de que 85% dos compradores de motos pertencem às classes C, D e E, que têm menos brancos. De fato, quem morre nas noites e madrugadas sobre duas rodas em São Paulo, por exemplo, são frentistas, garçons, manobristas, motoristas, porteiros, seguranças e vigilantes, ajudantes gerais, mecânicos, eletricistas e pedreiros, diz o estudo Mortos e Feridos sobre Duas Rodas: estudo sobre a acidentalidade e o motociclista em São Paulo, de Heloísa Martins e Eduardo Biavati.
“Em 2008, mais da metade das mortes a partir de 21h até 6h59 são de motociclistas dos grupos de trabalhadores dos serviços, vendedores do comércio em lojas e mercados e trabalhadores da produção de bens, manutenção e reparação — quase todos (80%) os garçons mortos em 2008 enquanto pilotavam suas motocicletas morreram nesse intervalo de horário, retornando para casa após o trabalho”, relata a publicação.
Ao contrário do que se imagina, as categorias que usam a moto como fonte de renda (motofretistas, motoboys e mototaxistas) não estão entre as principais vítimas. Na capital paulista, as estatísticas divulgadas pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) da prefeitura revelaram que apenas 8% dos 512 mortos eram profissionais.
Por tudo isso, o serviço de motoboy tem sido uma das profissões mais comum e requisitado no mundo contemporâneo. A cartilha Motoboys: Segurança e Saúde no Trabalho e Prevenção de Acidentes no Trânsito, com 22 páginas, tendo como autores Cleiton Faria Lima, técnico dos Serviços de Ações Educativos (SAE) da Fundacentro/SP, a gerente da CEd, Sonia Maria José Bombardi e a psicóloga e aposentada também da instituição, Maria Inês Franco Motti, foi publicada de forma digital e tem como principal objetivo difundir informações que possam contribuir para a diminuição dos acidentes sofridos pelos motoboys.
No Brasil, o início da atividade de motofrete se deu na década de 80 e, desde então, a quantidade de motoboys supera a de qualquer outro lugar mundo. Isto reflete os costumes da população atual, o qual a pressa em receber e entregar alimentos, documentos ou outros objetos são primordiais na vida das pessoas.
Conversando com motoristas que se envolveram em acidente com motos, todos eles alegaram que não viram a moto, ou seja, ela se torna invísivel para a maioria das pessoas dentro do carro. A cartilha sugere que, em muitos acidentes com motos que envolvem automóveis, o motorista alega não ter visto o motociclista. Assim, o motociclista deve fazer o possível para se tornar visível aos motoristas e pedestres. As sugestões são: mantenha-se ao alcance visual dos retrovisores do motorista; andar de farol aceso, mesmo de dia; e sempre sinalize com a seta quando for mudar de faixa.
Em São Paulo, o número de motoboys corresponde em torno de 500 mil trabalhadores, geralmente são homens na faixa de 18 a mais ou menos 25 anos, com ensino fundamental e médio. Cleiton Faria explica que diante deste fato, a cartilha foi escrita de forma didática, ilustrativa e traz informações sobre as exigências descritas na Resolução nº 356, do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), que institui regras de segurança para o transporte de cargas e passageiros, como o uso de capacete aprovado pelo Inmetro, o qual é necessário que o motoboy utilize-o com viseira ou óculos de proteção, adesivos retrorrefletivos e sempre afivelado. Também orienta sobre a proteção para o motor e pernas, além de aparador de linha (corta pipa).
De acordo com a Lei nº 12.009, de 27 de julho de 2009, a profissão de motoboy poderá ser exercida somente com idade mínima de 21 anos, habilitação de dois anos na categoria, bem como, ser aprovado em curso especializado e regulamentado pelo Contran. Já a Lei nº 12.436, de 06 de julho de 2011, proíbe que empregadores, pessoas físicas empregadoras ou tomadores de serviços façam uso de práticas que estimulem o aumento de velocidade por motociclistas profissionais, além de informar de forma geral tópicos que visam contribuir para um trabalho com mais segurança e conforto.
Lima ainda salienta que a publicação da cartilha faz parte do Projeto de Transporte que tem como demanda a de atender a sociedade por meio de materiais técnicos, cursos e palestras. “A Fundacentro atua em um Grupo que discute assuntos do Setor de Transportes e lançamos publicações educativas destinadas aos caminhoneiros e motoboys. No caso dos motoboys, o alto índice de acidentes que esses profissionais vêm sofrendo no dia a dia, fez com que discutíssemos a necessidade de abordar o tema”, esclarece o técnico.
O pesquisador também relata que participa de eventos destinados aos motoboys e diz que essa atividade ainda não é vista como profissão, e sim, como trabalho temporário. “Por isso, abordamos nesta cartilha as legislações existentes, justamente para informá-los da necessidade de da SST em seu ambiente de trabalho”, comenta Cleiton. O técnico atenta para os nomes das empresas que contratam esses profissionais, os quais remetem à “entrega rápida” e, com isso, pode estimular que o motoboy ande em alta velocidade.
“A informalidade do trabalho do motoboy é complicada. A discussão sobre o tema é longa e precisa de um olhar mais atencioso a respeito da segurança e saúde desses profissionais. O nosso objetivo é orientá-los não somente nas questões de SST, mas também sobre os seus direitos. Pretendemos também fazer outra cartilha destinada aos empregadores e contratantes de motoboys”, finaliza Faria. Para fazer o download da cartilha, clique no link http://www.fundacentro.gov.br/biblioteca/biblioteca-digital/publicacao/detalhe/2015/4/motoboy-seguranca-e-saude-no-trabalho-prevencao-de-acidentes-no-transito
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