Primeiros socorros em empresas

Em qualquer organização, as pessoas podem sofrer algum acidente, disturbio, etc. e dessa forma alguns funcionários podem ser preparados para atender a essas ocorrências, ou seja, ter competência  para prestar auxílio imediato à vítimas de acidentes e mal súbitos, mantendo-a com vida até a chegada de auxílio competente, reduzindo complicações por atendimentos totalmente leigos e intempestivos. O conceito de primeiros socorros é o cuidado imediato à alguém ferido ou doente,com a finalidade de: preservar a vida, promover a recuperação e prevenir que o caso piore. Tratamento não é a finalidade dos primeiros socorros, pois isso deve ser indicado e executado por profissionais habilitados, em locais adequados.

Importante dizer que em praticamente todos os ambientes ocupacionais estão presentes situações que possibilitam a ocorrência de eventos que requerem atendimento de urgência, seja em virtude de acidentes, seja decorrentes de contatos inadvertidos com substâncias ou formas de energia capazes de produzir traumatismos e lesões nos trabalhadores. Outras vezes, é a própria condição orgânica momentânea do trabalhador que lhe causa mal estar, levando-o a buscar alívio imediato.

Na verdade, a tecnologia associada ao estresse, assim como a interação de uma série de outros fatores decorrentes do processo de modernização e globalização, trouxe a necessidade de profissionais bem treinados e capacitados para atuarem neste tipo de atendimento, que difere sobremaneira do atendimento hospitalar, que é dado em instalações adequadas e com toda a infra estrutura apropriada ao tratamento do acidentado. Deve ser ressaltado que a interferência dos atendimentos de emergência na mortalidade vem sendo comprovada nos hospitais, notando-se acentuada redução dos índices de morte e invalidez nos pacientes que receberam adequadamente os primeiros socorros.

Outro fato importante a ser salientado corresponde à postura do socorrista. São pequenos detalhes, atos simples, os quais parecem bastante óbvios para qualquer pessoa, mas são extremamente significativos no momento em que se lida com vida, ou mais precisamente, no momento de risco iminente de vida. Para tanto, é preciso ter treinamento adequado, organizar o pensamento, ter autocontrole, para só então prestar a assistência correta. Trata -se de uma tarefa bastante difícil, principalmente se for levado em conta o nervosismo, a multidão, a dor e outros inúmeros fatores que precisam ser controlados e exteriorizados. O socorrista pode ser definido como o profissional em atendimento de emergência. Portanto, uma pessoa que possui apenas o curso básico de primeiros socorros não deve ser chamada de socorrista e sim de atendente de emergência.

A Fundacentro possui uma apresentação muito boa sobre o assunto no link http://www.fundacentro.gov.br/dominios/ctn/anexos/cdNr10/MODULO%2003/1%20Primeiros%20socorros%2003112005.ppt

Igualmente há um Guia Básico de Primeiros Socorros em http://www.fundacentro.gov.br/dominios/ctn/anexos/cdNr10/Manuais/Módulo03/PRIMEIROS%20SOCORROS%20-%20GUIA%20BASICO.pdf

Enfim, deve-se oferecer algumas possibilidades de assegurar a saúde e integridade física dos trabalhadores, mitigando dores e prevenindo danos maiores à sua saúde. Trata-se de uma providência que não pode faltar nas empresas, em especial àquelas em que os funcionários fiquem expostos a riscos de acidentes que podem e devem ter pronto atendimento.

Twitter do blog

No twitter do site

Tem mais notícias, informações, artigos e comentários sobre qualidade, metrologia, normalização, meio ambiente, etc. Dê uma espiada!

Usando o kanban em sistemas produtivos

Uma das ferramentas usadas em sistemas produtivos é o kanban, que possui um sistema de controle de cartões para identificar as áreas com problemas e avaliar os resultados das mudanças. Um sistema produtivos é denominada Produção Enxuta ou Lean Manufacturing que como o objetivo de otimizar os processos por meio da redução contínua de desperdícios, como, por exemplo, excesso de inventário entre as estações de trabalho, bem como tempos de espera elevados. Seus objetivos fundamentais são a qualidade e a flexibilidade do processo, ampliando sua capacidade de produzir e competir neste cenário globalizado. Para minimizar os desperdícios de produção, seus efeitos e prosseguir com a busca contínua de “zero defeitos, tempo de preparação zero, estoque zero, movimentação zero, quebra zero, lead time zero e lote unitário”, ela necessita de algumas ferramentas como o lay out celular, o kanban, o mapeamento do fluxo de valor, etc.

O termo Lean Manufactuting ou Produção Enxuta foi criado por no início da década de 90 para definir o Thinking Process de Taichi Ono e o conjunto de métodos que descrevem o sistema de produção da Toyota Motor Company. Este termo foi popularizado no livro A Máquina que Mudou o Mundo (Womack, Jones, & Roos, 1990), o qual ilustra claramente a significativa diferença de performance obtida pela implantação dos conceitos de produção enxuta na indústria automobilística japonesa, em comparação com a indústria ocidental. Ela reúne uma série de princípios para eliminar desperdícios durante a produção dos produtos, buscando atingir as expectativas dos clientes. Suas técnicas procuram minimizar as perdas dentro da empresa, gerando produtos a um menor custo e possibilitando à organização produzir a um preço menor e sem perda da qualidade. Os seus cinco princípios:

  • Especificar o que gera e o que não gera valor sob a perspectiva do cliente. Ao contrário do que tradicionalmente se faz, não se deve avaliar sob a óptica da empresa ou de seus departamentos.
  • Identificar todos os passos necessários para produzir o produto ao longo de toda linha de produção, de modo a não serem gerados desperdícios.
  • Promover ações a fim de criar um fluxo de valor contínuo, sem interrupções, ou esperas.
  • Produzir somente nas quantidades solicitadas pelo consumidor.
  • Esforçar-se para manter uma melhoria contínua, procurando a remoção de perdas e desperdícios.

Uma das ferramentas de controle utilizadas é o kanban. Ele pode ser definido como:

  • Um sistema de controle de fluxo de material ao nível da fábrica, desde o almoxarifado de matérias-primas até o armazém de produtos acabados (kanban interno), o qual se estende em alguns casos ao controle do material distribuído ou recebido de fornecedores.
  • Um sistema para o contínuo melhoramento da produtividade, alterando-se equipamentos, métodos de trabalho e práticas de movimentação de material, usando o sistema de controle de cartões para identificar as áreas com problemas e avaliar os resultados das mudanças.

 Características

Kanban é o termo japonês que significa cartão. Este cartão age como disparador da produção (ou movimentação) por parte de centros produtivos presentes no processo, coordenando a produção de todos os itens de acordo com a demanda de produtos finais. É um sistema puxado de controle de movimentação de material, o qual compreende um mecanismo que dispara a movimentação de um material de uma operação para a seguinte. Existem três tipos de kanban:

  • De transporte: é usado para avisar o estágio anterior que o material pode ser retirado do estoque e transferido para um destino específico. Este contém informações como: número e descrição do componente, lugar de origem e destino, entre outras.
  • De produção: é um sinal para o processo produtivo de que ele pode começar a produzir um item para que seja colocado em estoque. A informação contida neste kanban normalmente inclui número e descrição do componente, descrição do processo, materiais necessários para produção do componente, entre outras.
  • Do fornecedor: são usados para avisar ao fornecedor que é necessário enviar material ou componentes para um estágio da produção.

Existem basicamente dois tipos: de um cartão e de dois cartões. O primeiro é utilizado quando os postos de trabalho estão próximos uns dos outros. Neste caso um mesmo quadro de kanban pode ser utilizado por dois centros produtivos. Neste sistema o centro consumidor retira um lote de peças e põe o cartão no quadro de kanban. O centro produtor, com base na situação do quadro de kanban e seguindo um sistema de prioridades, iniciará a produção daquele item a fim de repor  a quantidade retirada do estoque.

O sistema de dois cartões é utilizado quando existe uma distância física expressiva entre os centros de trabalho. O kanban de transporte e o de produção são utilizados em conjunto neste tipo de sistema. O kanban de transporte serve para fazer a movimentação das peças. Este acompanha os lotes de peças até os centros consumidores. Ao iniciar o consumo das peças o cartão de transporte é colocado em um posto de recolhimento de cartões. Ao voltar ao centro produtor, este dispara a produção de um item específico através do cartão de produção correspondente, o qual é colocado no quadro de kanban. O cartão de transporte então retorna com um novo lote de material até o centro consumidor.

Conceitos

A implantação do sistema kanban envolve o conhecimento de inúmeros fatores, entre eles: conhecimento do fluxo de produção, layout da fábrica, produção puxada e empurrada, políticas de produção mediante ordens versus orientadas para estoque, dimensionamento dos cartões kanban, etc.

  • Conhecimento do fluxo de produção: Conhecer o fluxo de produção é vital na implantação do sistema kanban. Através desse fluxo, pode-se visualizar a existência de produtos com processos produtivos semelhantes e a partir disso uni-los em famílias de produtos. Uma ferramenta da Produção Enxuta que pode ser utilizada para se visualizar o fluxo de produção é o Value Stream Mapping ou Mapa do Fluxo de Valor.
  • Layout: O reprojeto de layout da fábrica é uma das ferramentas utilizadas para diminuição dos desperdícios na empresa. Reduções de movimentação, transporte, estoque em processo, entre outras, podem ser alcançadas com a utilização de um layout enxuto. O layout enxuto tem sua importância na implementação do sistema Kanban na medida em que ele viabiliza o fluxo de lotes pequenos de produção. Além disso, será o layout da fábrica responsável pela determinação do uso do um sistema de um ou dois cartões Kanban.
  • Produção puxada e empurrada: os sistemas de controle de produção podem ser divididos em sistemas de “puxar” e “empurrar” a produção. “Empurrar” a produção se inicia a partir de uma instância central de planejamento que faz uso de previsões para demandas futuras. A produção neste caso é iniciada antes da ocorrência da demanda, pois de outra maneira os bens não poderiam ser entregues dentro do prazo. Portanto, os lead times de produção têm de ser conhecidos ou aproximados. Em um sistema de “puxar”, a produção começa quando a demanda acontece de fato. A produção é disparada por um sistema de controle descentralizado. Para evitar longos tempos de espera, peças e produtos acabados devem ser estocados nos chamados buffers ou pulmões. Logo, os sistemas de “puxar” são chamados de sistemas com nível mínimo de inventário enquanto que os sistemas de “empurrar” são conhecidos como sistemas de inventário zero (apesar disto não ocorrer na realidade). Na implantação do sistema kanban, devem ser definidos os pontos de produção puxada e empurrada. Embora o kanban seja definido como um sistema de produção puxada pode-se projetar um sistema híbrido com pontos de produção puxada e pontos de produção empurrada. Isto é viável através da integração de kanban com outras metodologias.
  • Política de produção: os produtos podem ser fabricados somente mediante um pedido firme de produção, o Make-to-order (MTO) ou para estoque, Make-to-stock (MTS), sem que haja, necessariamente um pedido firme por parte do cliente. Apesar do sistema kanban prever a existência mínima de inventários em processo, ele é um sistema produtivo para repor peças retiradas do estoque do sistema kanban. Na implantação de um sistema kanban deve-se diferenciar claramente quais produtos serão fabricados para estoque e portanto passíveis de serem gerenciados via kanban, e quais serão produzidos sob ordens de produção.

O problema em torno desse tema está no fato de que nem sempre a classificação dos produtos é tão simples. Os produtos têm valores diferentes entre si e nem sempre produtos de consumo intermitente são menos expressivos do que produtos de consumo freqüente. Além disso, os sistemas MTO e MTS terão de conviver juntos, utilizando os mesmos recursos produtivos. Portanto, a programação da produção nos quadros de kanban torna-se mais complexa porque produtos MTO têm que ser alocados junto à programação de produtos MTS.

  • Dimensionamento dos cartões kanban: A fase de dimensionamento dos cartões talvez seja a fase mais importante do projeto do sistema kanban. Define-se, neste momento, a quantidade de estoque necessária entre os processos. Deve-se lembrar que o sistema kanban visa o mínimo nível de estoque possível. Segundo alguns autores, há duas fórmulas simplificadas para o cálculo do número de cartões e para o dimensionamento da quantidade de cada kanban.

Cálculo da quantidade por cartão (tamanho do kanban):

  

Cálculo do número de cartões:

  

Estas fórmulas servem como ponto inicial no dimensionamento do kanban, mas o que se observar é que há muitas variáveis influenciam este processo, cuja análise não deve limitar-se ao resultado obtido destas equações. Atualmente, o dimensionamento dos cartões é feito com base na experiência dos funcionários. Ele leva principalmente em conta o tempo de setup e o ritmo de produção pretendido.

A nanotecnologia no Brasil

O objetivo da nanotecnologia é o de criar novos materiais e desenvolver novos produtos e processos baseados na crescente capacidade da tecnologia moderna de ver e manipular átomos e moléculas. Os países desenvolvidos estão investindo muito dinheiro nessa nova fronteira da ciência. A nanotecnologia é a aplicação da ciência de sistemas em escala nanométrica. Um nanômetro (nm) é 1 bilionésimo de metro; reais sistemas em escala nanométrica têm tamanhos que variam de 1 a 100 nm.

Se esse regime está entre o mundo subnanométrico de átomos individuais, o tamanho típico padrão num circuito eletrônico de última geração está por volta de 200 nanômetros. É um regime onde a física, a química e a biologia se aglutinam para criar a nanociência, de onde a ciência da nanotecnologia possa começar. Segundo o ex-diretor do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron e idealizador do Centro Nacional de Referência em Nanotecnologia, Cylon Gonçalves da Silva, as aplicações em catálise, isto é, na química e na petroquímica, em entrega de medicamentos, em sensores, em materiais magnéticos, em computação quântica, são alguns exemplos da nanotecnologia sendo desenvolvidos no Brasil.

“O que precisamos agora é aprender a transformar todo esse conhecimento em riquezas para o país. A nanotecnologia é extremamente importante para o Brasil, por que a indústria brasileira terá de competir internacionalmente com novos produtos para que a economia do país se recupere e retome o crescimento econômico. Essa competição somente será bem-sucedida com produtos e processos inovadores, que se comparem aos melhores que a indústria internacional oferece. Isto significa que o conteúdo tecnológico dos produtos ofertados pela indústria brasileira terá de crescer substancialmente nos próximos anos e que a força de trabalho do país terá de receber um nível de educação em Ciência e Tecnologia muito mais elevado do que o de hoje. Esse é um grande desafio para todos nós”, explica.

As relações entre nanociência e nanotecnologia reproduzem ao nível nanométrico as mesmas relações entre ciência básica e as aplicações tecnológicas do conhecimento científico. Manipulando átomos e moléculas, os pesquisadores anunciam a possibilidade de criar medicamentos mais eficazes, materiais mais resistentes, computadores com maior capacidade de armazenamento e diversos benefícios socioambientais. “Saber é poder”, lembrando desta frase do filósofo inglês Bacon, o professor do Curso de Especialização em História da Ciência na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Mauro Lúcio Leitão Condé, comenta que “a idéia moderna de ciência como transformadora da natureza apresenta grandes implicações econômicas e a nanotecnologia está nesse epicentro”.

Quando se fala das pesquisas em nanotecnologia geralmente se distinguem os objetos de estudo, as técnicas utilizadas e os diferentes produtos que serão gerados (nanomagnetismo, metais ultrafinos, drogas nanocristalinas, nanofibras poliméricas e outros). Mas não são apenas essas as diferenças que existem entre as pesquisas. Segundo Condé, existe também uma diversidade de idéias sobre o que é o fazer científico, presentes nos diferentes campos da nanotecnologia. “Neste século, muitos pesquisadores ainda fazem ciência a partir do paradigma clássico. A nanotecnologia, por exemplo, avança em algumas direções, mas ainda permanece em parte presa ao pensamento clássico quando o assunto é a racionalidade científica e a fragmentação do conhecimento”.

Ainda existe a idéia da ciência como produtora de uma verdade única e essa idéia ainda orienta a produção de conhecimentos no campo científico, comenta Condé. Porém, a maioria dos cientistas que trabalha com a matemática, por exemplo, pensa a ciência como a busca por uma verdade pontual, a busca pela resposta a certas perguntas, diz o pesquisador. “A matemática define-se muito mais como uma atividade de criação do que como de descoberta ou revelação”, conclui.

A coexistência de pesquisas que se orientam por múltiplos paradigmas da ciência — que marcaram os séculos XVII, XIX e XX — é uma marca da produção científica multidisciplinar, como a nanotecnológica. Walter Carnielli, diretor do Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência (CLE), da Unicamp, comenta que “isso não é um problema, não é errado de errado na coexistência dos múltiplos paradigmas dentro da mesma comunidade científica, mas é preciso perceber que existem diferenças que têm que ser reconhecidas”.

A nanotecnologia agrega práticas e métodos das ciências naturais e das ciências formais. As ciências formais independem do empirismo, de laboratórios, de experimentação, diferenciando-se das ciências naturais porque lidam com problemas que “existem apenas na cabeça dos cientistas, não têm substância, não se alimentam, são feitos apenas de hipóteses e de suas conseqüências”, comenta Carnielli. Os sistemas computacionais e os softwares são produtos bastante interessantes das ciências formais. Recentemente, a filosofia tem se dedicado a estudar os problemas que emergem das ciências formais e que envolvem, entre outras áreas, a matemática, as ciências cognitivas, a semiótica, a semiologia e a lógica.

A lógica, por exemplo, se transformou na linguagem básica das ciências formais. Em outras áreas, como na física tradicional, a linguagem utilizada baseia-se largamente no paradigma do cálculo diferencial de Isaac Newton e Gottfried Leibniz do século XVII, diz Carnielli. Essa mudança na linguagem produziu mudanças também nos referenciais das pesquisas, que passaram a depender de questões ligadas ao tempo, à sincronicidade e à assincronicidade, aos agentes e à ética formal, e às lógicas que investigam o que é crer e conhecer e o que é consistência e coerência. Todas essas questões precisam ser pesquisadas e conhecidas para serem criados os sistemas computacionais, explica Carnielli. E acrescenta “um dos focos de estudo das ciências formais é o que pode e o que não pode ser expresso por um sistema, o que a matemática, a lógica, e em particular o computador podem ou não expressar, ou seja, os limites que determinam o campo da cientificidade”.

O reconhecimento do valor epistêmico dos sistemas computacionais tem sido cada vez maior a partir de resultados apresentados por pesquisas como as do campo nanotecnológico, que utilizam simulações computacionais para demonstrar o comportamento de átomos e moléculas. Pesquisadores da Unicamp e USP que descreveram o comportamento dos átomos de nanofios de ouro – um material estratégico para a fabricação de componentes de computadores – alcançaram êxito e precisão graças aos cálculos e simulações realizadas em computadores. Além disso, conseguiram informações inusitadas sobre a organização dos átomos, tornando ainda mais expressiva a importância da simulação por computadores. Ela tem, inclusive, antecipado a própria experiência em grande parte das pesquisas. O uso dos produtos das ciências formais – como os softwares – por pesquisas das ciências naturais podem propiciar economia de tempo e dinheiro.

A inauguração das ciências formais pode ser associada à emergência da geometria não euclidiana de Lobachevsky-Bolyai-Gauss, no século XIX. Essas ciências propõem objetos desvinculados de uma realidade empírica, que “não existiriam” se fossem levados em consideração os referenciais antigos: uma reta que não é reta, um círculo que não é redondo, retas tais que por um ponto fora delas passa mais de uma paralela, ou nenhuma paralela, comenta o filósofo. A física, somente muito tempo depois, passou a utilizar a geometria não euclidiana. De maneira análoga, o século XX concebeu as lógicas não-clássicas. Carnielli diz que começou estudando as lógicas não clássicas, que na época eram consideradas as mais exóticas, “sempre tive a crença de que algum dia isso seria importante, apesar de parecerem naquele momento heterodoxias absurdas. Hoje, essas lógicas são utilizadas na engenharia de software e na teoria de bancos de dados. “O quanto dessa ciência formal será possível utilizar e de que forma?”, pergunta Carnielli, para afirmar que essa é uma das inquietações que movimenta hoje a filosofia das ciências formais.

Para competir em pesquisas de ponta, seguindo a tendência dos mais importantes Institutos Nacionais de Metrologia (INM), o Inmetro, por meio da Divisão de Materiais, começa a fazer no Brasil as primeiras experiências com metrologia em OLEDs no Centro de Dispositivos Orgânicos (CeDO), uma das áreas de pesquisas do Centro de Nanometrologia, coordenado pelo físico Carlos Alberto Achete. “Nesse novo contexto, o papel do Inmetro é o de garantir a confiabilidade dos produtos. Para garantir a qualidade de um OLED, você precisa de medidas de controle, como a padronização de materiais de luminosidade. É esse padrão que vai garantir a eficiência. Esse é um nicho onde o Inmetro pode apoiar a indústria, ajudando a fabricar melhores dispositivos como estratégia na busca de aumento de eficiência produtiva e de inovação tecnológica”, resume.

A tecnologia dos OLEDs (dispositivos orgânicos emissores de luz) vai revolucionar a vida dos consumidores. O futuro será flexível, multifuncional – um só OLED pode ser TV, Internet, telefone – e cada vez menor, miniaturizado. Os OLEDs são uma aplicação da Eletrônica Molecular (EM), uma das partes da nova visão científica de Nanociência e Nanotecnologia e está se configurando como uma das áreas mais estratégicas para o desenvolvimento tecnológico de muitos países.

Os OLEDs são fontes luminosas, que podem ser produzidos em qualquer tamanho, num grande número de substratos, incluindo a plástica flexível. A maioria das aplicações com OLEDs é de displays pequenos como celulares, tocadores MP3, máquinas fotográficas. Estão sendo criados monitores para laptops, roupas inteligentes e, no Japão, relógios incrustados sobre roupas. As vantagens dos OLEDs, em comparação com os atuais displays de cristais líquidos (LCDs), incluem baixo consumo de energia elétrica, mobilidade de transporte, economia de espaço e preço baixo.

Com a crescente adoção da nanotecnologia na fabricação de produtos de consumo, a organização Innovation Society propôs um modelo para uma Pirâmide da Nano Informação. O objetivo da proposta é debater os desafios e as responsabilidades para a preservação das informações sobre os nanomateriais utilizados em cada produto ao longo da cadeia de valor. O modelo pode contribuir para resolver e analisar as áreas críticas na cadeia de valor.

Segundo a proposta, há grandes desafios a serem vencidos pela indústria, pelas autoridades, pelas agências de fiscalização e até pelas companhias de seguro. Entre esses desafios para o futuro destacam-se: encontrar instrumentos adequados e confiáveis para transferir dados e informações específicos da nanotecnologia ao longo da cadeia de valor e para satisfazer as necessidades dos consumidores; garantir que o fluxo de nanoinformações (a montante e a jusante) não seja interrompido; e dividir os custos e as responsabilidades dessa cadeia de nanoinformações entre as partes responsáveis.

A Pirâmide combina diferentes ferramentas de transferência de informações entre os diferentes níveis da cadeia de valor para garantir que os dados nanoespecíficos (e, se necessário, os aspectos de segurança envolvidos) sejam transferidos de forma adequada, da indústria até a reciclagem. Há uma preocupação crescente com os riscos advindos do uso das nanopartículas. Algumas pesquisas iniciais apontam riscos tanto para o meio ambiente quanto para a saúde humana, embora as amostragens ainda sejam insuficientes para conclusões definitivas. A Pirâmide da Nano Informação é o primeiro esforço que leva em consideração os aspectos econômicos, sobretudo a preparação para a reciclagem dos produtos com nanotecnologia.

  

A Pirâmide da Nano Informação é o primeiro esforço que leva em consideração os aspectos econômicos, sobretudo a preparação para a reciclagem dos produtos com nanotecnologia.[Imagem: Innovation Society]

Alguns exemplos de aplicação (Fonte: Nanotechnology Research Directions: IWGN Workshop Report)

Indústria automobilística e aeronáutica Materiais mais leves, pneus mais duráveis, plásticos não-inflamáveis e mais baratos, etc.
Indústria eletrônica e de comunicações Armazenamento de dados, telas planas, aumento na velocidade de processamento, etc.
Indústria química e de materiais Catalisadores mais eficientes, ferramentas de corte mais duras, fluidos magnéticos inteligentes, etc.
Indústria farmacêutica, biotecnológica e biomédica Novos medicamentos baseados em nanoestruturas, kits de autodiagnóstico, materiais para regeneração de ossos e tecidos, etc.
Setor de fabricação Novos microscópios e instrumentos de medida, ferramentas para manipular a matéria em nível atômico, bioestruturas, etc.
Setor energético Novos tipos de bateria, fotossíntese artificial, economia de energia ao utilizar materiais mais leves e circuitos menores, etc.
Meio ambiente Membranas seletivas, para remover contaminantes ou sal da água, novas possibilidades de reciclagem, etc.
Defesa Detectores de agentes químicos e orgânicos, circuitos eletrônicos mais eficientes, sistemas de observação miniaturizados, tecidos mais leves, etc.